segunda-feira, 26 de maio de 2008

Ecologia e Família


As plantas assentam a sua força de auto-afirmação e realização nas suas raízes, enquanto que o ser humano as fundamenta no espírito.

O clima e a pureza do ar estão para a planta como a atmosfera humana, o amor está para o género humano. São dois sistemas ecológicos interdependentes em que o meio ambiente (biotópico e cultural) é determinante para a sua sobrevivência. As plantas sofrem com o meio ambiente poluído tal como a pessoa humana sofre com a poluição cultural ambiental. A poluição é comum tendo a mesma causa e os mesmos efeitos. O sofrimento é o mesmo, toda a criação sofre, diferenciando-se o sofrimento no grau da vibração. Falta ainda a capacidade de identificação e a consciência humana do padecer comum.

O ser humano e a natureza alcançaram já um grau limite de poluição. A poluição ambiental e cultural é provocada pelo nosso modo de viver, pelo mundo das nossas ideias e sentimentos. A medida mais urgente a tomar será a remodelação das nossas ideias. As ideias são energia tal como o sol o é. Enquanto o Sol proporciona a vida o Homem, amuralhado nas suas ideias, continua a provocar sombra terrena, a sombra do sofrimento porque ainda não descobriu o Sol interior que se encontra nele mesmo, o amor, de que o astro Sol é apenas a sombra.

Tal como o dióxido de carbono, o ozono, e os químicos em geral poluem a atmosfera e o solo prejudicando as plantas, assim actuam as ideologias contaminando a cultura. A vida no cerco do mundo paralelo das ideias é incapaz de reconhecer a vida como corrente, como espírito a brotar.

Se na ecologia é essencial a defesa dos biótopos para a conservação e desenvolvimento natural das espécies, o mesmo se deveria dar na sociedade onde os biótopos naturais são primeiramente a família. Nos biótopos desenvolvem-se as forças que possibilitam a resistência e a auto – afirmação ao meio adverso. O que o húmus é para a planta é o afecto, o ambiente emocional, o espírito, para a pessoa.

Como na atmosfera se dá um estreitamento do espaço vital devido à profusão do anidrido carbónico e de outros tóxicos também na sociedade aumentam os tóxicos – medo, stress, egoísmo e moralismo – condicionadores do indivíduo e do grupo. Na natureza os tufões e os zunamis ocorrem já com grande frequência observando-se o mesmo fenómeno nas famílias e na sociedade com entulhamentos e enxurradas no corpo e na alma. As forças instintivas e intuitivas perdem o equilíbrio através de bloqueios e nós da energia vital. Sociedade e natureza cada vez manifestam mais sintomas de doença.

O desenvolvimento da personalidade em biótopo desnaturado fixa-se numa expressão adolescente crónica. A sociedade recusa assumir responsabilidade mantendo-se no infantilismo arcaico e na resolução dos problemas à maneira do passado. O fumo das fábricas e dos carros bem como os medos e o desatino intoxicam a sociedade e a natureza. Também em nós ardem as tensões, a nível do inconsciente, provocando fumaça e intoxicações na alma e na sociedade. Como consequência o espaço social e psicológico torna-se cada vez mais reduzido devido a medos e inseguranças. A juventude sem perspectivas nem chances resigna.

A florescência do amor é impedida, atendendo à poluição dos canais. A energia formadora e sustentadora do universo é o amor que tudo muda e transforma. Como esta energia não é aceite no mercado, a natureza e a humanidade sofrem. O amor deixa de ser reconhecido como substrato do desenvolvimento individual, das espécies, da natureza e da sociedade. Precisamos dum novo Renascimento, da Renascença do espírito, doutro modo continuaremos a ser menos cumpridores do nosso papel de género do que as outras espécies da natureza. O mundo precisa duma nova visão.

A regeneração da natureza e da sociedade só será possível mediante uma nova mentalidade. Uma mentalidade unificadora do pensar-sentir-agir no conúbio de tudo em todos. Uma nova consciência conduzirá à experiência gratificante da ressonância na vibração universal.
António Justo
2007-03-23
António da Cunha Duarte Justo

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